Deu em O Globo

O pós-eleição

Merval Pereira
Na expectativa de que as próximas pesquisas eleitorais registrem alterações na definição do eleitorado que permitam a esperança de um segundo turno, os principais líderes do PSDB vivem uma situação paradoxal. Gostariam de ir para o segundo turno para manter a polarização com o PT, mas não acreditam que seja possível vencer.
Até porque, admitem, Serra teria que mudar totalmente os rumos da campanha, e não acreditam que ele se disporá a isso.
Ao contrário, se convencerá de que a estratégia do marqueteiro Luiz Gonzales estava correta.
Caso a hipótese de um segundo turno se concretize, é previsível que haja no PSDB um movimento para uma comissão partidária assumir o comando da campanha, o que pode gerar uma crise.
Há também um problema factual: se chegar ao segundo turno mais devido à subida de Marina Silva do que por sua própria força, Serra estará fadado a perder para Dilma a maior parte do eleitorado que escolheu a candidata do Partido Verde no primeiro turno.
Do ponto de vista do militante tucano, chegar ao segundo turno é o objetivo estratégico para manter-se uma referência da oposição.
Mas para ganhar a eleição da candidata de Lula, a maior chance estaria com Marina Silva, desde que ela mostrasse nessa reta final da eleição capacidade de crescer tirando votos tanto de Dilma quanto de Serra, superando o tucano.
A mais recente pesquisa Datafolha mostra Marina subindo tirando votos de Serra e dos indecisos, mas sem alterar a posição de Dilma, o que não levaria ao segundo turno.
A campanha de Serra pode se deparar com um problema a mais: nas condições políticas atuais, o voto útil em Marina pode vir a se transformar em uma arma mais efetiva para derrotar o lulismo do que o voto em Serra.
Hoje, nas grandes cidades, há um movimento pró-Marina que pode provocar uma “onda verde” na reta final da eleição.
A estratégia que Serra tentou no início da campanha, de não encarnar o candidato anti-Lula, na esperança de que o eleitorado lulista o considerasse uma alternativa, Marina utiliza com mais naturalidade.
Tendo uma história de vida inteira dentro do PT e tendo sido ministra do Meio-Ambiente na maior parte do governo Lula, a candidata “verde” tem legitimidade para criticar o governo Lula sem se colocar como dissidente.
Por isso ela evitou durante toda a campanha fazer críticas diretas ao presidente Lula ou à candidata Dilma Rousseff, sem culpá-los pela sua saída do ministério.
O que parece a muitos uma fragilidade de sua campanha, pode ser o justo equilíbrio para levá-la a se tornar a opção do eleitor petista que esteja eventualmente desgostoso com os rumos que o governo vem tomando.
A situação de Serra, por outro lado, continuará bastante difícil mesmo que vá para o segundo turno.
Se não houver mudanças significativas difíceis de se enxergar no momento, ele chegará lá, pelo que as pesquisas estão mostrando, com menos votos do que o candidato tucano Geraldo Alckmin teve em 2006.
Dificilmente atingirá os 42% de votos válidos que o candidato do PSDB obteve naquela eleição, o que o enfraquece como candidato e também dentro do próprio partido.
O presidente Lula, em entrevista ao site IG, comparou mais uma vez a situação de Serra à dele em 1994 e 1998, quando disputou a eleição e perdeu no primeiro turno para o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso:
“Eu lembro o que era dificuldade em fazer discurso em 1994. Sabe, o Real bombando e eu tentando me esgoelar contra o Real. Eu fiquei muito tempo com a imagem de uma propaganda de um pãozinho que aparecia caído num prato assim, que o preço era nove centavos. Era mortal aquela propaganda”, lembrou.
Na reeleição, Lula também se defrontou com a vontade do eleitorado de manter a continuidade do Plano Real, e mais uma vez perdeu a eleição no primeiro turno, mesmo com a economia já dando sinais de que não ia bem e que o Real teria que ser desvalorizado.
“Bem, eu acho que o Serra está vivendo esse drama. Ou seja, nós temos de nos conformar e esperar outra oportunidade. Eu tive paciência de esperar. Eu tinha menos idade do que o Serra tem hoje. Então, é duro”, comentou Lula.

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