O Conselho de Segurança da ONU condenou a ação onde sete
funcionários estrangeiros e quatro
cidadãos afegãos morreram
No pior ataque contra a ONU no
Afeganistão, pelo menos sete
funcionários estrangeiros e quatro
cidadãos afegãos morreram ontem
quando um protesto contra a queima
do Alcorão nos EUA se transformou
em um ataque
contra um edifício das Nações Unidas
na cidade de Mazar-i-Sharif, no norte
do Afeganistão. Dois dos funcionários
estrangeiros da ONU teriam sido
decapitados.
Há dez dias, o grupo do polêmico
pastor protestante Terry Jones
(foto) queimou um exemplar do Alcorão
em uma igreja da Flórida. Eles
realizaram um "julgamento" dentro
da igreja diante do fieis e acusaram
o livro sagrado muçulmano de ser
o culpado por crimes. Ao final,
executaram a pena contra
o Alcorão.
Mas a iniciativa dos pastores foi
duramente criticada até mesmo
pelo presidente do Afeganistão,
Hamid Karzai, que qualificou o ato
de "crime contra a religião" e pediu
ação dos EUA.
Ontem, cerca de 2 mil pessoas
haviam se reunido de forma pacífica
nos portões do prédio da ONU para
protestar contra os pastores
americanos e pedir o fim da
intervenção internacional no
país, após as orações tradicionais
de sexta-feira. Segundo as investigações
feitas pela ONU, imãs sugeriram
aos fieis que "atacassem" as forças
estrangeiras que ocupam o país.
A manifestação ganhou contornos
dramáticos quando um grupo tentou
roubar as armas dos seguranças
da ONU e passou a atacar o prédio
com pedras, tentando pular o
muro que protegia o
edifício. Segundo a entidade,
alguns dos manifestantes estavam
armados e abriram
fogo contra os policiais. O incidente
acabou permitindo que a segurança
do edifício fosse controlada pelos
manifestantes, que invadiram o
prédio. Alguns escritórios foram incendiados.
Pelo menos quatro seguranças do
Nepal que protegiam a entrada da
ONU foram mortos, segundo o
comandante da Polícia Nacional
Afegã, general Daud Daud. Dois
deles teriam sido decapitados,
ainda que a ONU tenha optado
por não confirmar o fato. O chefe
da missão da ONU no local foi
gravemente ferido.
Segundo o porta-voz da ONU,
Dan McNorton, outros três
funcionários internacionais
foram mortos, de nacionalidade
norueguesa, sueca e romena.
Não há brasileiros entre os mortos.
José Francisco Siebert Luz, um
brasileiro que trabalha para a
ONU no Afeganistão, afirmou
ao Estado que estava em Cabul
no momento do ataque.
O governo afegão indicou que
quatro manifestantes também
foram mortos. Mas o número total
de vítimas poderia chegar a 20,
de acordo com fontes médicas,
como Mirwais Zabi, diretor do
hospital em Mazar-i-Sharif.
Segundo o porta-voz da polícia
da cidade, Lal Mohammed Ahmadzai,
insurgentes se infiltraram na
manifestação até então pacífica
e teriam aproveitado a ocasião
para cometer o crime. Quinze
pessoas foram detidas.
Funcionários da ONU disseram
que o restante dos manifestantes
pediam "morte aos EUA" e "morte a Israel".
Em Cabul, 200 pessoas também
se manifestaram contra a queima
do Alcorão diante da embaixada
americana. Apesar da queima de
bandeiras americanas, não
houve violência.
Após os incidentes, a Rússia pediu
ao governo afegão e às forças da
Otan (Organização do Tratado do
Atlântico Norte) no país que protejam
as equipes da ONU. Ban Ki-moon,
secretário-geral da ONU, qualificou
os ataques de "covardes".
Conselho de Segurança da ONU
condena ataque no Afeganistão
O Conselho de Segurança da ONU
condenou nesta sexta-feira a ação
contra um escritório da organização
na cidade afegã de Mazar-i-Sharif,
que matou ao menos sete funcionários,
além de cinco dos manifestantes que
invadiram o local.
"Os membros do Conselho de Segurança
condenam com veemência o violento
ataque contra o centro de operações",
disse aos jornalistas o embaixador
da Colômbia na ONU, Nestor Osorio,
que é o presidente durante este mês.
Segundo ele, o conselho pede ainda
que o governo afegão "leve os
responsáveis pelo atentado à Justiça".
Após o ataque --no qual manifestantes
revoltados com a queima do Corão
pelo pastor protestante de uma igreja
da Flórida (EUA) invadiram o escritório-
- o CS realizou uma reunião de emergência.
Mais cedo, o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, disse a jornalistas em Nairóbi (Quênia) que o ataque foi "ultrajante e covarde". A embaixadora americana na ONU, Susan Rice, afirmou em um comunicado que a ação foi "horrenda e sem sentido".
Anteriormente, a ONU confirmou as mortes de sete funcionários estrangeiros-- entre membros e agentes da segurança-- após o ataque. "Três membros da Missão de Assistência da ONU no Afeganistão [Unama, na sigla em inglês] e quatro seguranças morreram", disse Dan McNorton, porta-voz da ONU no Afeganistão.
De acordo com o porta-voz da polícia local Lal Mohammad Ahmadzai, o ataque pode ter matado até 20 funcionários. Representantes da ONU em Nova York também dizem acreditar que os mortos podem chegar a 20. De acordo com a agência de notícias Reuters, ao menos dois funcionários foram decapitados. Cinco manifestantes também morreram, e outros 20 ficaram feridos.
Se as 20 mortes forem confirmadas, será o pior ataque contra alvos da ONU no Afeganistão, e um dos mais mortíferos contra a organização nos últimos anos. O pior ataque mais recente havia sido contra uma hospedaria onde membros da ONU estavam no Afeganistão. Na ocasião, cinco funcionários morreram e outros nove se feriram.
PROTESTOS
Um porta-voz policial local disse que as mortes aconteceram depois que uma manifestação contra a queima de exemplares do Corão por um pregador norte-americano terminou em violência.
Após a oração da sexta-feira, milhares de pessoas foram às ruas da cidade, a mais importante do norte afegão, em protesto contra a queima de um Corão em uma igreja da Flórida (EUA) em 20 de março.
Os manifestantes lotaram as ruas da normalmente pacata cidade, e após duas ou três horas de protesto, a violência começou. Um pequeno grupo atacou o escritório da ONU, atirando pedras e escalando barreiras para tentar invadir o local.
Uma fonte policial, que recusou-se a ser identificada porque não tem autorização para falar com a imprensa, disse que os manifestantes atacaram as vítimas dentro do complexo da ONU.
O chefe da missão na cidade ficou ferido, mas sobreviveu. Entre os mortos estão funcionários noruegueses, romenos e suecos, acrescentou o policial.
O governador da Província de Balkh disse que insurgentes usaram a manifestação como "disfarce" para efetuar o ataque. "Eles se aproveitaram da situação para atacar o prédio da ONU", disse Ata Mohammad Noor.
O Ministério de Relações Exteriores do Brasil afirmou à Folha.com que não há brasileiros nesta missão da ONU.
CORÃO
Em 20 de março, o pastor protestante Wayne Sapp queimou um exemplar do Corão em uma igreja da Flórida (EUA) na presença do pastor Terry Jones, que anunciou no ano passado que faria o mesmo por ocasião do aniversário dos atentados de 11 de setembro, embora tenha voltado atrás.
Os pastores realizaram um "julgamento" dentro da igreja, no qual o livro sagrado muçulmano foi declarado "culpado" de várias acusações, entre elas assassinato. Em seguida a pena foi executada: o exemplar foi queimado.
Fonte: Estadão e Folha Online |
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